Grandes projetos de engenharia, que envolvem uma infraestrutura complexa como nas áreas de Energia e Saneamento, por exemplo, podem ter custos altíssimos que não garantem, obrigatoriamente, maior eficiência.
É nesse cenário que a Engenharia de Valor se destaca, com uma abordagem estratégica cujo objetivo é otimizar projetos, processos e soluções, garantindo eficiência econômica, técnica e sustentável, assegurando que cada decisão ou investimento gere o maior retorno possível.
Não se trata somente de reduzir despesas, mas de identificar formas inovadoras de entregar mais – e melhor – com menos. Ao revisar estruturas, fornecedores e tecnologias sob a lente do valor, surgem novas ideias, caminhos alternativos e soluções disruptivas que não apenas cortam custos, mas reinventam a proposta de valor da empresa.
E foi com essa perspectiva que a área de Saneamento da Tractebel transformou o projeto original de tratamento dos resíduos gerados pela Estação de Tratamento de Água (ETA) da BRK, na cidade de Uruguaiana (RS). A solução, inclusive, foi vencedora do prêmio BRK Atitude & Inovação 2024.
Mas, antes de detalhar esse projeto, vamos entender por que a Engenharia de Valor é essencial nos projetos em setores complexos.
Engenharia de Valor: recursos aplicados com a máxima eficiência
A adoção da Engenharia de Valor em projetos de infraestrutura é essencial para garantir que os recursos sejam aplicados com máxima eficiência, gerando obras mais sustentáveis, duráveis e economicamente viáveis, otimizando custos sem sacrificar a qualidade, muito pelo contrário.
Com a adoção dessa metodologia, é possível propor alternativas inovadoras, com tecnologias de baixo impacto ambiental ou processos construtivos mais ágeis, elevando o padrão das entregas.
E quais são os principais motivos para a adoção da Engenharia de Valor? Confira:
Otimização de custos sem comprometer qualidade
- Identifica oportunidades para reduzir gastos desnecessários enquanto mantém (ou melhora) a funcionalidade do projeto.
Melhoria contínua em projetos complexos
- Projetos de infraestrutura exigem alta precisão. A Engenharia de Valor ajuda a revisar etapas, antecipar riscos e propor alternativas mais viáveis em cada fase do desenvolvimento e implantação do projeto.
Redução de riscos e custos
- Evita retrabalhos em obras complexas por meio de simulações e prototipagem.
Análise de projetos de infraestrutura
- Redesenha sistemas buscando materiais e processos mais eficientes.
Sustentabilidade e eficiência energética
- A metodologia prioriza soluções que alinham desempenho e redução de impacto ambiental, como integração de energias renováveis ou sistemas de gestão inteligente.
Satisfação do cliente e stakeholders
- Assegura que as necessidades de todos os envolvidos (empresas, governos, investidores, comunidades) sejam atendidas com a melhor relação custo-benefício.
Quais são as etapas de Engenharia de Valor?
A Engenharia de Valor segue uma metodologia estruturada, geralmente dividida em etapas claras para garantir a análise eficiente de projetos e a proposição de soluções otimizadas. No contexto de infraestrutura (saneamento, energia, construção, entre outros setores), essas fases são fundamentais para equilibrar custo, funcionalidade e desempenho.
Aqui estão as seis etapas principais, definidas no padrão internacional preconizado pela organização SAVE International:
Preparação
- Definição do escopo do estudo, seleção da equipe multidisciplinar e levantamento de dados relevantes (custos, prazos, requisitos técnicos).
- Identificação dos objetivos e restrições do projeto.
Análise de funções
- Analisar o projeto para identificar suas funções primárias, secundárias e essenciais:
- Função primária: o propósito final daquele projeto (ex.: “fornecer energia”, “extrair minério”, “distribuir água”).
- Funções secundárias: funções que são necessárias para dar suporte à função primária ou melhorá-la esteticamente.
- Funções essenciais: um tipo de função secundária indispensável para o desempenho bem-sucedido da função primária (ex.: “integridade estrutural”).
- Avaliação da relação custo x função para detectar oportunidades de melhoria.
Geração de ideias (brainstorming criativo)
- Reuniões com a equipe para propor alternativas que atendam às funções essenciais com maior eficiência.
- Foco em inovação, sem julgamento inicial de viabilidade.
Avaliação e seleção de ideias
- Filtragem das melhores propostas com base em critérios como custo, viabilidade técnica, prazo e impacto.
- Uso de matrizes de decisão ou análise SWOT para priorizar soluções.
Desenvolvimento das propostas (detalhamento)
- Elaboração de estudos técnicos, orçamentos e cronogramas das alternativas selecionadas.
- Validação com especialistas e ajustes para garantir conformidade com normas e requisitos.
Apresentação e implementação
- Relatório final com recomendações, vantagens e economia estimada para os tomadores de decisão.
- Acompanhamento da execução para garantir que as mudanças sejam aplicadas corretamente.
E por que essa estrutura é eficaz?
Cada etapa assegura que o projeto seja analisado de forma sistemática, combinando criatividade e rigor técnico. Em projetos de infraestrutura crítica, esse método reduz riscos, evita retrabalhos e maximiza o retorno do investimento.
Redução de 75% dos custos e maior eficiência: como a Tractebel aplica a Engenharia de Valor
Para fazer o tratamento do lodo gerado pela Estação de Tratamento de Água (ETA) na cidade de Uruguaiana (RS), a BRK previa, inicialmente, implantar uma Unidade de Tratamento de Resíduos (UTR), porém o custo de implantação se revelou inviável.
Inicialmente, estudaram uma solução: o envio do lodo da ETA para a ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) da cidade. Porém, a forma proposta para este envio, que incluía a construção de quase 1km de lododuto e de uma nova elevatória na cidade, envolvia interferências significativas em vias urbanas.
Marco Baldo, Gerente de Projetos e especialista em saneamento, e Alberto Mancini, engenheiro e Gerente de Projetos, ambos da Tractebel, analisaram o projeto, debateram alternativas e, após estudarem todo o sistema coletor de esgoto da cidade, observaram pontos que poderiam ser reestudados de modo a trazer uma melhor eficiência ao sistema.
O resultado? Redução em 75% dos custos do projeto que está em fase de implantação, com previsão de conclusão para 2029, com uma solução que irá resolver totalmente o problema do descarte dos resíduos, com mais eficiência.
A solução: Construir um tanque de equalização para ajustar a vazão do lodo (500 l/s) à capacidade da rede de esgoto local (25l/s) e usar um modelo de elevatória diferente do usual: o SBL – Sistema de Bombeamento em Linha – que pode ser implantado na própria ETA. A nova elevatória, então, irá bombear o lodo para um ponto da rede de esgoto próximo, identificado pela equipe, capaz de levar os resíduos até a ETE usando apenas a gravidade, ou seja, sem a necessidade da construção de uma elevatória no meio da cidade. Dessa forma, quase a totalidade das obras está concentrada na área da ETA, reduzindo drasticamente os custos de implantação.
Mancini ressalta que essa é uma tecnologia pouco convencional para esse tipo de aplicação — elevatórias SBL são normalmente usadas em redes de esgoto, não de água — mas que esta adequação melhora a eficiência não somente na implantação, mas também na manutenção e operação: enquanto uma elevatória convencional operaria 24 horas/dia, a nova (SBL) operará somente 24 minutos/dia.
O projeto mereceu o reconhecimento interno da BRK, como uma das melhores iniciativas de inovação da companhia, e foi a vencedora do prêmio BRK Atitude & Inovação 2024.
Esse é o resultado da aplicação da Engenharia de Valor nos projetos de infraestrutura: alinhar eficiência técnica e econômica. E temos muito orgulho de levar cada vez mais inovação e qualidade para nossos clientes.